“O amor de Cristo nos uniu”











“O amor de Cristo nos uniu”. Esta frase se encontra na liturgia eucarística, da missa nossa de cada dia, precisamente na resposta que antecede o abraço da paz. Mas, com todo respeito e zelo para com o seu significado litúrgico, seu uso e importância neste escrito restringe-se para manifestar a beleza do amor de Cristo na singular experiência missionária na Área Pastoral Pe. Geraldinho.


No primeiro semestre deste ano, o Seminário Maior Bom Pastor foi agraciado com a notícia de que iria, durante o mês de julho, realizar uma pastoral missionária na Área Pastoral Pe. Geraldinho. A Área está localizada entre os municípios de Cametá, Oeiras do Pará e Baião. Possui cerca de 60 comunidades, estas com duas realidades: área de estrada, com acesso a Transcametá e suas vicinais e área ribeirinha com acesso ao rio Tocantins e seus afluentes. O período proposto para a missão foi de 30 dias. O local é desafiador, pelo difícil acesso e outras precariedades, mas mesmo assim a notícia foi recebida com alegria. Durante alguns meses que antecederam a missão, Pe. José Maria (reitor do seminário Bom Pastor) Pe. Ivaldo, atual administrador da área (também coordenador de pastoral da Prelazia e do Seminário Maior) juntamente com os seminaristas maiores e os animadores e coordenadores de comunidades da Área, empenharam-se com muito esmero no planejamento, preparação e animação deste inédito projeto. Esse gesto de ordenamento dos trabalhos em conjunto, ou seja, a gêneses da ação pastoral feito com a colaboração de todos, foi um sinal de que o protagonista da missão, o Espírito Santo, estava agindo e conduzindo todo o preparo e apontando que a missão seria uma profunda experiência no amor de Cristo.


No itinerário da missão, o retiro missionário deu abertura ao estágio. Dom Jesus, com belas e sábias palavras, esboçava em plenária pontos fundamentais como o sentido da vida (o estar a serviço) e a oração (amizade com Jesus), para serem pilares no agir no meio do povo. Somente na renúncia de si mesmo encontramos o verdadeiro sentido da vida. O modelo desta entrega/doação é Jesus. E destacou: “Na cruz, Cristo morre totalmente para si, para que os homens tenham vida”. Nos gestos de Jesus, encontramos o verdadeiro sentido de nossas vidas: a entrega. É preciso, portanto, beber da fonte que é Cristo para pôr-se a caminho e no caminho descobrir o valor da entrega. Essa entrega, quando disponibilizada ao serviço da Igreja, adquire sentido transcendente, ou seja, uma entrega que não se limita aos sentimentos egocêntricos, escravos das vaidades que tolhem a liberdade humana, mas que vai além: “nossa vida tem sentido quando a doamos no serviço a Deus e no serviço aos outros”. Esse colocar-se a serviço exige no mínimo uma amizade profunda com o Mestre de Nazaré. A oração, o diálogo orante é quem dão suporte para o seguimento e a repetição de seus atos. É ela quem sustenta o permanecer com Cristo e o doar-se aos outros: “permanecei em mim e eu permanecerei em vós” (Jo 15,4). O amor a Jesus Cristo, na oração e no serviço, sustenta, portanto, toda a vida pastoral.


Nas comunidades, vilas e casas, o amor de Jesus antecipava os nossos passos. Ele que abria as portas do coração de cada pessoa para nos acolher nas suas residências. Não nos conhecíamos, mas seu amor nos havia tornado família, antes mesmo de nos conhecermos. É a ação do mistério pascal de Cristo agindo no hoje. É a Palavra Encarnada no seio das comunidades produzindo frutos. Palavra que é refletida, rezada, bebida, cantada e praticada no coração das pessoas humildes. Palavra feita ação, que partilha seus alimentos, que se revela no mutirão da roça e nos trabalhos pelo bem comum, que cuida dos doentes, das mães grávidas e das crianças, que ampara os idosos e os desabrigados. Palavra que vigora e dá força para se exigirem direitos. É o anseio pela vinda do Reino que nos faz famílias e irmãos no amor do ressuscitado.


No confronto com a realidade endurecida pela pobreza, pelo descaso, exploração, ainda se encontram muitos testemunhos de fé e sentimento de fraternidade no meio do povo. Somente um coração desprovido da caridade de Jesus Cristo não consegue enxergar os sinais de Deus nos pequenos passos, nos gestos simples e nos pequeninos. É preciso, pois, usar os óculos da fé, embriagar-se deste amor/união para contemplar a Deus nas pequenas coisas.


Seminarista Raimundo Corrêa
2° ano de Teologia